sábado, 19 de novembro de 2011

"Homem Só" na Galeria Caminhense


Não se trata de uma primeira publicação da escritora, de facto já publicou outros livros como edição de autora. Na verdade, este livro resulta de uma evolução natural dos livros anteriormente publicados, onde já se assistia a um enorme potencial em transpor para o papel simples histórias de vida, escritas com uma maturidade cada vez mais evidente.
É interessante ver a forma como a escritora, sendo uma mulher, nos consegue prender, ao longo deste romance, assumindo um protagonismo na mente de um homem, homem este, que nunca
desejando estar só, nos vai revelando os seus sentimentos, emoções, frustrações, desejos e até mesmo uma energia que nos transporta, nalguns momentos, para dimensões que apenas o pensamento mais profundo de um ser consegue atingir.
Segue num mundo paralelo ao seu, um amigo de infância, que a escritora retrata como sendo irreverente, com uma capacidade de ultrapassar os limites do mundo real, momentos de histórias suspensas em passados longínquos, quem sabe de outras vidas vividas, roçando num esoterismo, nem por todos compreendido. É o regresso ao passado, suportado em memórias sentidas com saudade, tornando muitas vezes o futuro, um espelho desse mesmo passado.
Página após página, vamos seguindo a vida de um homem inserido na sociedade, que a escritora descreve, muitas vezes, como sendo fútil, materialista, ausente de valores sentimentais, trazendo no fundo, semelhanças à sociedade que nos rodeia.
São vários os momentos de alusão ao que o ser humano tem de melhor, ao amor sincero entre duas pessoas, à amizade verdadeira, à importância da proximidade da família, fazendo-nos mostrar que o verdadeiro ser está no interior de cada um de nós e não naquilo que a visão nos mostra.
É um livro poderoso de sentimentos, com um conteúdo que nos impele a ler, e ler cada vez mais, e sem dar por isso vamos deslizando num texto que nos envolve, com as suas palavras
enérgicas em memórias e locais lindíssimos que nos transportam até onde a imaginação nos consegue levar.
Ao longo do romance, vamos encontrando alguns neologismos, palavras novas que enriquecem o texto e que habitualmente apenas os escritores mais audazes são capazes de os empregar.

Celina Rodrigues

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