quarta-feira, 21 de maio de 2008

Poema retirado da obra "As Vindimas da Noite"

O OLHAR DA DISTÂNCIA

Para Fiama Hasse Pais Brandão

e Maria Teresa Dias Furtado


As barcas partem sempre novas, renovadas.

No fôlego que habitou a noite,

a errância expandiu-se, talvez se expanda ainda,

sob as ondas que gritam mais alto

o sussurrar do vento.


Na sumária distância, a retina regista pausas, letras,

frutos e raízes que a serenidade transporta,

porque a amizade bebe as suas águas,

no silêncio sagrado,

bálsamo luminoso que mitiga a dor,

em seus lagos perenes, em seus laços incólumes.


Sobre relógios aquáticos, flutua um rosto,

uma mulher, o seu nome é fábula,

o seu olhar, talhado nos versos da natureza,

paira nas florestas,

onde os pássaros cantam ainda a noite antiga.


No labor oculto, o destino tece, destece,

sob o olhar que escurece,

as recordações recolhem a água, o rosto,

o mundo, o seu sorriso,

e o olhar de Medeia aparece, impresso


no coração das folhas rubras.



Maria do Sameiro Barroso

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