quarta-feira, 21 de maio de 2008

Poema retirado da obra "As Vindimas da Noite"

AS VINDIMAS DA NOITE


As ancas, os ombros, as falésias flutuariam,

na noite onde se despenham as ravinas,

o corpo insidioso arrastando o mar, a boca,

os joelhos sonâmbulos,

os barcos que se cobrem de limos, grãos de areia,

esquecimento.


As harpas do horizonte ergueram-se já,

como árvores frondosas.

Nas colmeias de sangue, fervilha a rosa,

a corola verde, o tumultuoso nome,

o timbre infinito.


As ancas, os ombros, as falésias flutuariam,

na noite,

no vazio errante de um coração silábico

que se abre, suspenso,

por dentro das estrelas, à deriva.


No vazio leve das miragens, esconde-se,

nas vindimas da noite,

o corpo dormente da eternidade que rebenta,

silenciosa,

nos punhais ébrios de salsa, cinza,

aspergindo, na névoa minuciosa,

o ruir das telhas, entre ervas, dedos,


acariciados lentamente.


Maria do Sameiro Barroso

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