"Um Clamor de Anémonas"
Para Albano Martins
Numa varanda verde, assoma um esqueleto marinho,
um clamor de anémonas,
uma selva aquática onde os leopardos de frescura
despontam, sobre o ouro e o fogo,
nas nuvens altivas, nas redes esquivas,
nas panteras de anil que, entre as neblinas de cetim
repousam.
Ao pôr-do-sol, as luzes do mar acendem-se,
em seus lampejos de inviolada lonjura.
As papoilas adormeceram já, rasgado
o seu fulgor, sobre as meditações do mar,
ao pôr-do-sol.
Que resta então, senão trabalhar o oiro, a metáfora,
escutar, nos aturdidos clarões, as sécias,
o rosmaninho, o incenso em botão,
os vulcões da palavra?
Que resta, senão parar, para mondar a seara ardente
e a libertar do seu ofício funcionário,
atear o sol
e as restituir às algas, à seda,
os pincéis de luz, o tapete de musgo,
o seu invólucro de estrelas?
Maria do Sameiro Barroso, In "As Vindimas da Noite"
Um comentário:
Rectifica-se, em nome da verdade, que a legenda à ímagem tem as pessoas fotografadas mal identificadas: da esquerda para a direita estão: Isabel Wolmar (que leu os poemas); João Artur Pinto (Editor da labirinto), Luís Filipe Pereira (que fez o posfácio à obra e a apresentou nesse dia 12 de Maio) e a autora do livro Maria do Sameiro Barroso.
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