pede à madrinha
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O futuro é o mal, Heiner Müller, Organização e tradução de Fernando
Ramalho, Língua morta
Há 14 minutos
Soneto in extremis
Quando eu morrer e reverter ao chão,
não profiram discursos nem louvores
se acaso tive glória ou tive amores,
não sepultem o passado em meu caixão.
Não quero missa, prece ou oração;
nem sufoquem meu corpo sobre flores;
não levem ao cemitério pranto ou dores;
quer seja de saudades ou de paixão.
Recitem versos, cantem melodia
não fui senão poeta em minha vida,
girando dentro em mim qual caracol.
Terei mais luz no derradeiro dia,
um cruel esplendor na despedida:
poesia enchendo o túmulo de sol.
(Ildásio Tavares in As Flores do Caos, prefácio de Casimiro de Brito, Labirinto, 2009)