PELO SONHO.
por Pompeu Miguel Martins
Susana Afonso apresenta-nos a história de Jaques, «um menino meigo, de cabelos sedosos, com cheiro a baunilha e olhos cintilantes, que acabara de chegar a Portugal, há meia dúzia de meses, e estava, agora, a frequentar o 1º ano do Ensino Básico» A aventura de Jaques é uma aventura pelo nosso tempo e pelas questões que sempre levanta este nosso tempo, numa metáfora eficaz na sua expressão lúdica, pedagógica e cívica. No entendimento de Mercedez Manzano (1985), existem três elementos fundamentais na definição do conceito de literatura para a infância e juventude: simplicidade criadora, audácia poética e comunicação adequada. «A simplicidade abarca a obra na sua globalidade: enredo, tema, estrutura e linguagem. Simplicidade não significa simplificação.»Efectivamente, ao contrário do que possa parecer, a literatura para a infância não é infantil, mas destina-se a um público infantil. Do mesmíssimo modo que um pediatra não aplica nas crianças terapias básicas ou simples, também um escritor para as crianças terá que ter a noção de que o que se lhe exige é o mesmo que a um escritor para adultos, porém utilizando a criatividade e os meios de que dispõe de modo a obter uma resposta positiva e eficaz da parte dos seus leitores que são efectivamente crianças com um universo próprio e com um modo de construir o seu imaginário adequado à fase de desenvolvimento cognitivo e de personalidade próprios.Este item está bem presente na atitude criadora de Susana Afonso, que ao longo de todas as páginas deste livro manteve um esforço louvável para construir um enredo coerente, em torno de temáticas que vão de encontro à realidade em que vivem actualmente as nossas crianças, estruturando a sua história com reconhecida coerência.Regressando a Mercedez Manzano, «a segunda nota caracterizadora da literatura para a infância é a poesia, intimamente ligada com a linguagem. O escritor deve conceder uma margem à criatividade e à audácia poética. Nessa progressão poética e criativa facilita-se à criança o acesso ao texto. A criança, em contacto com a audácia poética do texto, percebe a quebra de rotina e situa-se na literatura como um lugar em que pode aperceber-se da sua identidade e tentar reconhecer-se».Eis um ponto nevrálgico da importância que livros como esta história de Jaques possui no desenvolvimento do ser: o reconhecimento de valores com a saudável convivência familiar, a amizade, a dádiva, a solidariedade e o sonho estão muito presentes em todo a obra, diluídos num universo identitário infantil que certamente não criará barreiras para que, nesse mesmo universo da infância a criança possa, pela leitura, experimentar os respectivos valores, através de uma história.
«Como terceira e última nota caracterizadora deste tipo de literatura destaca-se o simbolismo e a comunicação. Uma autêntica comunicação é a melhor motivação para provocar o desejo de ler, para saber escolher».Mais importante, ou pelo menos mais fundador, do que o conhecimento exaustivo das teorias literárias é a existência na pessoa do desejo de ler. E para que esse desejo se manifeste é necessário que a literatura chegue até nós de modo a que cada um possa sentir que há ali um lugar que é seu, uma interpretação que é sua, um entendimento único e intimo. Não se lê sem intimidade, sob pena de considerarmos estranho e eternamente outro o universo proposto, a que se não regressa pela impossibilidade que tivemos de não criar uma relação. Tal como no relacionamento humano, também a literatura começa por ser uma proposta de relacionamento interior e projectado de imediato na nossa irrepetível forma de ver e de sentir o mundo.Susana Afonso, neste seu primeiro livro, teve já presente esta ideia. Na forma como construi a obra, fê-lo de maneira a que quer a poética, quer o contexto, quer o conteúdo pudessem constituir-se como acrescentos ao que as crianças que a lerão irão sentir após a leitura. E o que sentirão elas? Provavelmente para algumas o questionar de situações pela primeira vez, o que é sempre um momento muito rico para cada um, a aprendizagem de conteúdos que vão desde as leis da física, da matemática, da música entre outros e o reforço da aprendizagem do sonho. «É pelo sonho que vamos» dizia-nos Sebastião da Gama e é certamente por aí que esta obra também se inscreve.Enquanto elemento socializador esta história de Jaques dá conta da existência de uma diversidade de modelos sociais, sendo que o confronto dos mesmos terá como consequência o alargar de perspectivas sobre a vida de cada um enquanto elo de ligação permanente à vida dos outros.A construção de uma personagem que vem de outro país para Portugal e que sente a inevitável estranheza da língua e da cultura é o primeiro dos desafios que Susana Afonso lança aos seus leitores, fazendo-os passar pela experiência que a leitura sempre proporciona para que com ela possamos sentir o personagem e com ele experimentar as sensações da interculturalidade. Por outro lado, ainda no registo dos temas da nossa contemporaneidade, a autora caracteriza o pequeno Jaques como filho de uma família de pais divorciados, experimentando a distância da mãe e dos irmãos criando aí uma espécie de argumento para o retomar do sonho e da fantasia. A distância da família que habita em Paris faz a ponte para uma certa mistificação de formas de vida urbanas, contrastando com o espaço de intimidade do pequeno Jaques, existindo neste livro, um incentivo ao romper de preconceitos, utilizando para isso a propositada desconstrução de ideais tipo. A autora consegue isso em vários momentos como são exemplo o Lobo, sempre encarado com feroz animal, aqui apresentado como personagem alegre e companheira, ou da madrasta, habitualmente conotada como um ser malévolo e em competição permanente com a figura da mãe, aparecendo neste livro como alguém a quem também compete a participação positiva no desenvolvimento afectivo do herói da história. O quebrar de preconceitos é um desafio civilizacional, continua ser para cada um de nós um desafio de todos os dias. É daí que surgirá uma sociedade mais justa e mais compreensiva resultando a justiça e a compreensão numa sociedade mais inclusiva que será certamente uma sociedade com mais paz, conforme todos ambicionamos. Do ponto de vista pedagógico, esta obra é também um elemento de exploração de temáticas que se relacionam com a educação cívica: desde a necessidade de protecção do meio ambiente à de mudança de hábitos quotidianos que farão com que possamos viver num mundo mais equilibrado e harmonioso. Porém, esta é também uma obra que poderá ser de grande utilidade para outro tipo de leitores que são os pais ou os professores, pelo que ela nos oferece enquanto instrumento de educação. Seja para a nossa vida diária enquanto pais, seja na planificação de uma aula sobre os conteúdos versados nesta história, «Viver Paris ao som de um pífaro» , é um útil contributo para que se leve a bom porto a discussão em torno de todas as questões que aí se levantam. Um livro que deixa no ar inúmeras perguntas e outras tantas possibilidades de actividades pedagógicas, de respostas, de levantar plataformas onde seja possível erguer nas crianças pensamentos maiores, cumprindo assim com aquilo que deve ser a principal missão de todos nós que contribuímos para a educação: ajudar a criar cidadãos que deixem ao mundo um mundo melhor do que aquele que encontraram. Foi exactamente isso que Susana Afonso fez, ao deixar o seu contributo e é com ele, pelo sonho e pela utopia, que nunca devemos baixar os braços nessa responsabilidade que é de todos, ajudar a enriquecer os sonhos das nossas crianças para que tenhamos a certeza que com isso lhes estamos a enriquecer os dias.
«Como terceira e última nota caracterizadora deste tipo de literatura destaca-se o simbolismo e a comunicação. Uma autêntica comunicação é a melhor motivação para provocar o desejo de ler, para saber escolher».Mais importante, ou pelo menos mais fundador, do que o conhecimento exaustivo das teorias literárias é a existência na pessoa do desejo de ler. E para que esse desejo se manifeste é necessário que a literatura chegue até nós de modo a que cada um possa sentir que há ali um lugar que é seu, uma interpretação que é sua, um entendimento único e intimo. Não se lê sem intimidade, sob pena de considerarmos estranho e eternamente outro o universo proposto, a que se não regressa pela impossibilidade que tivemos de não criar uma relação. Tal como no relacionamento humano, também a literatura começa por ser uma proposta de relacionamento interior e projectado de imediato na nossa irrepetível forma de ver e de sentir o mundo.Susana Afonso, neste seu primeiro livro, teve já presente esta ideia. Na forma como construi a obra, fê-lo de maneira a que quer a poética, quer o contexto, quer o conteúdo pudessem constituir-se como acrescentos ao que as crianças que a lerão irão sentir após a leitura. E o que sentirão elas? Provavelmente para algumas o questionar de situações pela primeira vez, o que é sempre um momento muito rico para cada um, a aprendizagem de conteúdos que vão desde as leis da física, da matemática, da música entre outros e o reforço da aprendizagem do sonho. «É pelo sonho que vamos» dizia-nos Sebastião da Gama e é certamente por aí que esta obra também se inscreve.Enquanto elemento socializador esta história de Jaques dá conta da existência de uma diversidade de modelos sociais, sendo que o confronto dos mesmos terá como consequência o alargar de perspectivas sobre a vida de cada um enquanto elo de ligação permanente à vida dos outros.A construção de uma personagem que vem de outro país para Portugal e que sente a inevitável estranheza da língua e da cultura é o primeiro dos desafios que Susana Afonso lança aos seus leitores, fazendo-os passar pela experiência que a leitura sempre proporciona para que com ela possamos sentir o personagem e com ele experimentar as sensações da interculturalidade. Por outro lado, ainda no registo dos temas da nossa contemporaneidade, a autora caracteriza o pequeno Jaques como filho de uma família de pais divorciados, experimentando a distância da mãe e dos irmãos criando aí uma espécie de argumento para o retomar do sonho e da fantasia. A distância da família que habita em Paris faz a ponte para uma certa mistificação de formas de vida urbanas, contrastando com o espaço de intimidade do pequeno Jaques, existindo neste livro, um incentivo ao romper de preconceitos, utilizando para isso a propositada desconstrução de ideais tipo. A autora consegue isso em vários momentos como são exemplo o Lobo, sempre encarado com feroz animal, aqui apresentado como personagem alegre e companheira, ou da madrasta, habitualmente conotada como um ser malévolo e em competição permanente com a figura da mãe, aparecendo neste livro como alguém a quem também compete a participação positiva no desenvolvimento afectivo do herói da história. O quebrar de preconceitos é um desafio civilizacional, continua ser para cada um de nós um desafio de todos os dias. É daí que surgirá uma sociedade mais justa e mais compreensiva resultando a justiça e a compreensão numa sociedade mais inclusiva que será certamente uma sociedade com mais paz, conforme todos ambicionamos. Do ponto de vista pedagógico, esta obra é também um elemento de exploração de temáticas que se relacionam com a educação cívica: desde a necessidade de protecção do meio ambiente à de mudança de hábitos quotidianos que farão com que possamos viver num mundo mais equilibrado e harmonioso. Porém, esta é também uma obra que poderá ser de grande utilidade para outro tipo de leitores que são os pais ou os professores, pelo que ela nos oferece enquanto instrumento de educação. Seja para a nossa vida diária enquanto pais, seja na planificação de uma aula sobre os conteúdos versados nesta história, «Viver Paris ao som de um pífaro» , é um útil contributo para que se leve a bom porto a discussão em torno de todas as questões que aí se levantam. Um livro que deixa no ar inúmeras perguntas e outras tantas possibilidades de actividades pedagógicas, de respostas, de levantar plataformas onde seja possível erguer nas crianças pensamentos maiores, cumprindo assim com aquilo que deve ser a principal missão de todos nós que contribuímos para a educação: ajudar a criar cidadãos que deixem ao mundo um mundo melhor do que aquele que encontraram. Foi exactamente isso que Susana Afonso fez, ao deixar o seu contributo e é com ele, pelo sonho e pela utopia, que nunca devemos baixar os braços nessa responsabilidade que é de todos, ajudar a enriquecer os sonhos das nossas crianças para que tenhamos a certeza que com isso lhes estamos a enriquecer os dias.
Um comentário:
Eu gosto de comprar livros de histórias infantis para os meus filhos eu acho que ajuda a promover a sua imaginação. No ano passado, foi de férias com a minha família para Florianópolis eo apartamento que tinhamos alugado em VivaReal havia muitos livros infantis, então foi uma agradável surpresa para minha família.
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