Ante uma sala quase cheia, começou por falar a Dra. Maria do Sameiro Barroso, representante da Editora Labirinto, e membro do seu Conselho Editorial, que felicitou a autora do livro por mais esta publicação e teceu algumas considerações acerca da Editora, que, dada a especificidade da relação de venda dos livros de poesia com o mercado em geral, se apresenta com um carácter de cooperativa de escritores como forma de veicular as vozes de alguns poetas. Passada que foi a palavra ao poeta João Rui de Sousa, este fez a apresentação propriamente dita do novo livro de Graça Pires, enfatizando as principais linhas força daquela que foi a sua leitura da obra em questão, bem como algumas das características desta poesia. Assim, João Rui de Sousa considerou, que a obra assentava em “dois travejamentos essenciais”: o facto de possuir uma “configuração discursiva”, assim como um “manifesto trabalho de despersonalização” da poeta, como forma de compreender e/ou interiorizar os “hipotéticos sentimentos e congeminações de um outro”. Ao assumir a personalidade de Dulcineia a autora imagina, também, um percurso, que, como todos os percursos, é dotado de “baixios” e “pontos luminosos”. Para João Rui de Sousa, o “perfil multifacetado e imprevisível de D. Quixote” encontra-se esparso na obra, por conseguinte vemo-lo como, visionário, herói e até poeta. Outro aspecto a que o apresentador da obra de Graça Pires deu particular relevo, foi ao pretérito remorso de Dulcineia, que, neste livro, só “tardiamente acaba por recolher, com ambas as mãos, toda a vasta mancha de sonhos de que se sente herdeira. Num segundo momento da sua exposição, João Rui de Sousa deteve-se ainda nas “intenções e estratégia de escrita destas lembranças de Dulcineia”, através das quais a poeta compõe o retrato do cavaleiro, assim como nos vários tópicos significativos do livro: o desalento, a mágoa, etc., que, não contraditoriamente, alternam com “numerosos sintomas de frescura, de luminosidade alusiva, de vitalidade”, desembocando estes últimos, por vezes, em imagens onde predomina o afectivo-corporal (a boca, os beijos, os lábios, as ancas, os ombros…), ou seja, esta inequívoca sensualidade, será, para Dulcineia, um modo de não deixar esquecer “o seu instinto de corporalidade, ainda que tardio” e é neste, e por este, movimento, que todo o percurso poético do livro, segundo João Rui de Sousa, atinge o seu ponto último, sempre através de uma poética que, “sendo de discreta arquitectura, está longe de ser simplista, e que, recusando a linearidade de um discurso meramente discritivo, opta por uma “expressão de cariz transfigurador, revelando-se que, nesta poesia, se encontram firmemente conciliadas a “segurança oficinal” e a “ajustada plasticidade metafórica”.
Num terceiro, e último, momento da sessão, alguns dos poetas presentes, num clima de franca cumplicidade poética e de solidariedade para com a autora do livro que se apresentava, fizeram uma leitura pública de alguns poemas do livro “Uma extensa mancha de sonhos”, assim, e por ordem alfabética, leram os poemas de Graça Pires os seguintes poetas ali presentes: João Rui de Sousa, Maria Augusta Silva, Maria do Sameiro Barroso e Victor Oliveira Mateus. E foi exactamente neste clima de partilha cultural, facto que parece já ser hábito instituído nas iniciativas da “Labirinto”, que a sessão teve o seu término.
2 comentários:
Quem é esse salar?
Não cliquem em cima do "Here" pode ser vírus... se alguém souber o contrário que o diga...
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